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A área da Matemática sempre foi considerada, para muitos, uma vilã que para ter seus conteúdos aprendidos era necessário uma grande habilidade ou inteligência. E não somente alunos sofriam com a matéria mas também professores que , sem saber como ensinar ou que metodologia seria mais adequada, repetiam o mesmo ensino pelo qual passaram: fragmentado, descontextualizado e com o treino como principal atividade.
Hoje sabemos, através de estudos , principalmente a Didática da Matemática baseada nos pressupostos piagetianos, que o aprendizado de conceitos matemáticos está ligado a "como" esses conceitos são apresentados ao estudante: sem ou com significado.
Contextualizar o problema, apresentar o desafio e validar as aprendizagens leva a criançada a construir com autonomia aqueles conceitos que , durante anos, foram apenas transmitidos e treinados nas escolas.
Neste blog, apresentamos artigos, experiências e propostas de atividades que, esperamos, proporcionem a reflexão sobre o ensino de Matemática.
Aproveitem!!!

quinta-feira, 19 de julho de 2012

Ensinar e aprender matemática com prazer... é possível?


Na última semana participei de um Seminário, no Instituto Pandavas, em que um dos temas apresentado foi: “Atividades colaborativas no Ensino da Matemática”, cujo objetivo era “demonstrar que através de atividades simples podemos explorar os mais diversos conteúdos de forma lúdica e colaborativa, estreitando os laços de afetividade entre professores e alunos, tornando o processo ensino-aprendizagem mais significativo a todos os estudantes, por aproximá-los de sua realidade concreta e emocional” (prof. Wilson Rosett)
A atividade consistia em classificar, agrupar e selecionar objetos (inicialmente que rola e que não rolam) e depois construir, em grupos, maquetes de cidades, contemplando tudo o que acreditamos que uma cidade necessite para que as pessoas possam viver bem. Cada grupo organizou-se de maneiras diferenciadas, as maquetes ficaram bem interessantes e criativas. Cada grupo pode dar sua devolutiva de como foi realizar esse trabalho coletivo. Depois, buscando a interdisciplinaridade, o professor propôs que cada grupo elaborasse um roteiro para o outro visitar sua cidade e chegar em determinado local ou simplesmente explorar seus pontos turísticos. A atividade, focando aspectos da geometria, foi um disparador para que muitos educadores que ali estavam pudessem repensar sua maneira de ensinar matemática nas séries iniciais e instigar aqueles que acreditam que a matemática é para aqueles que têm aptidão para os cálculos.
Na informação dada sobre o que seria o workshop, algumas palavras me chamaram a atenção: “explorar diversos conteúdos de forma lúdica e colaborativa”, “estreitar laços de afetividade” “tornar o processo de ensino-aprendizagem significativo para TODOS os estudantes”.
Sobre a primeira parte a que me referi, voltemos um pouco na história do ensino da matemática e veremos, primeiro, um ensino normativo, centrado no conteúdo, em que o professor tinha a missão de transmitir, de comunicar um saber aos alunos. O aluno deveria olhar, escutar, prestar atenção, aprender, imitar, treinar, e aplicar. O saber já estava finalizado, não havia espaço para descobertas. Quem de nós, hoje educadores, não passou por esse tipo de ensino? Feliz aquele que tinha”facilidade” com a matemática, em memorizar a tabuada, as fórmulas, e aplicá-las em exercícios de fixação. Davam-se muito bem nos teste e provas, provavelmente demonstrando uma grande capacidade para as ciências exatas, engenharia, física, etc.. Durante décadas essa foi a única concepção de ensino da matemática.
Como outra forma de ensino, temos o modelo chamado “iniciativo”, que está centrado no aluno. O ensino se baseia em saber do aluno seus interesses, programam-se fichas de estudos ou passo-a-passo, o professor dá as coordenadas, o aluno busca, estuda, aprende. O saber está ligado às necessidades da vida, do ambiente (a estrutura própria deste saber passa para segundo plano). Lembro-me que tive professores no magistério que se gabavam em dizer: o aluno deve ser autônomo, tem que aprender por si só! Sem ferramentas? Sem mediação? Não preciso me aprofundar em nenhum tema, só importa o que está ao meu redor? Surgiam meus primeiros questionamentos. Como eu poderia ler um texto sobre as teorias de aprendizagem e explicar sobre ele, se ainda estava em formação para ser uma professora? Que conhecimentos prévios eu tinha sobre esse assunto, visto que tinha acabado de passar para a idade da abstração (14, 15 anos), e nunca ouvira falar em teorias? Mas eu deveria aprender, pois afinal fazia parte do programa a ser cumprido. Em matemática, lembro-me de exercitar as fórmulas, aprender “macetes”, e no final da semana passar por um teste, que seriam quatro no mês, e no final deste teria uma das notas para consolidar a média. O professor dava dois exemplos e depois tínhamos que resolver os demais cálculos usando um deles: quanta autonomia! Hoje preciso esforça-me por lembrar as fórmulas, ao voltar a lecionar para os maiores precisei retomar todos os conteúdos, pois não me lembrava de nenhum... então o que significavam as boas notas que tirei no magistério, se os conteúdos não ficaram em minha memória?
Como outra alternativa de aprendizagem o modelo chamado “aproximativo” que está centrado na construção do saber pelo aluno. O papel do professor é de mediador entre o aluno e o objeto de conhecimento, organizando uma série de situações didáticas com diferentes desafios, organizando também as diferentes fases (investigação, formulação, validação, institucionalização). Existe na aula o momento da comunicação oral ou escrita, em que o aluno explicita o que fez, suas estratégias e suas dúvidas. O aluno ensaia, busca, propõe soluções, confronta-as com as de seus colegas, defende-as e discute, dentro de um clima agradável em que o saber está sendo construído por todos. Seria esse o caminho para explorar os mais diversos conteúdos de forma lúdica e colaborativa, em que todos têm a oportunidade de participar e aprender, numa interação afetiva e de respeito mútuo? Acredito que sim.
Sabemos, no entanto, que diante do que trazemos em nossa “mala” de circunstâncias em que nos tornamos professores, no nosso contexto de vida acadêmica, as nossas raízes construídas no modelo normativo, passando por um processo de ensino iniciativo que não foi tão bem compreendido e menos ainda difundido, acabamos por utilizar todos os métodos possíveis na ânsia de ensinar ao aluno aquilo que ele deve aprender… ou será daquilo que nós queremos que ele aprenda? Muitos fazem uma miscelânea de metodologias, a que chamam de ensino eclético. O que não seria tão prejudicial ao aluno, se contemplasse o modo de aprender de cada um, e não a carência de experiência e de formação reflexiva e especializada por parte de quem educa.
O estudo mais aprofundado destes modelos citados fornece um bom instrumento de análise e reflexão para os professores em formação. Precisamos, no entanto, ter consciência de que, mesmo observando a presença dos três modelos de aprendizagem, cada professor faz uma escolha, consciente ou não e de maneira privilegiada, de um deles.
Nessa escolha, três elementos da atividade pedagógica se fazem presente, dependendo de como o professor pensa sobre sua prática:
- o comportamento do professor diante do erro do aluno: que interpretação faz acerca deles? Quais são suas intervenções?
- as práticas de avaliação:como pensa a avaliação? Para que serve? Em que momentos e como utiliza suas informações? Quais as formas e critérios que adota?
- qual o papel da resolução de problemas em usa aula: o que pensa sobre os problemas? quando utiliza, de que maneira? Com que finalidade?
Retomando as palavras citadas no início, sobre o seminário, pensando sobre atividades que sejam lúdicas, alguns dirão: então temos que brincar, jogar e brincar? Mas o que significa lúdico? Lúdico: adj. Que faz referência a jogo ou brinquedos: brincadeiras lúdicas. Que tem o divertimento acima de qualquer outro propósito. Que faz alguma coisa simplesmente pelo prazer em fazê-la. Contagiante.
Podemos imaginar uma educação matemática contagiante? Se pensarmos somente como ensino de algoritmos e fórmulas, isso seria impossível. Se pensarmos em investigação, descobertas sem medo de errar, aprender com o outro, ter espaço para colocar-se e aprender a ouvir a opinião do colega, então a resposta será: sim!
Carecemos de mudanças no processo de ensino e aprendizagem, que gosto de colocar separados pois, temos estratégias de ensino e estratégias de aprendizagem, que podem gerar, inclusive, dificuldades de aprendizagem e dificuldades de “ensinagem”. Para que essa mudança ocorra, somente dar bons problemas e esperar que os alunos discutam não será suficiente. Torna-se necessário mudança de paradigmas, mudança no pensar e fazer do professor que só acontecerão por meio de estudos, análises e reflexão sobre sua prática como educador, o que se dá pela formação continuada. O passado permanece em cada um como sempre foi, não é possível mudá-lo. Mas o presente está aí, novinho em folha esperando para ser construído da maneira como cada um escolher. E o futuro será a colheita da nossa plantação de hoje.
Como diz prof. Ubiratan D’Ambrósio: “(…) capacidade de enfrentar situações e de resolver problemas novos, de modelar adequadamente uma situação real para, com esses instrumentos, chegar a uma possível solução ou curso de ação. Isso é aprendizagem por excelência, isto é, a capacidade de explicar, de aprender e compreender, de enfrentar, criticamente, situações novas. Aprender não é o mero domínio de técnicas, de habilidades, nem a memorização de algumas explicações e teorias.” (Educação Matemática: da teoria à prática. Campinas/SP. Ed. Papirus, p. 108)

Acreditem: é possível ensinar e aprender matemática com prazer, num processo em que todos sejam envolvidos de forma contagiante!  

Profª. Deborah Arantes

2 comentários:

  1. Excelente texto. A matemática sempre foi um tabu para mim enquanto, educadora, pedagoga. Sempre quis mostrar aos meu professores que deveria haver uma maneira de dar sabor a matemática, já que ela está presente em nossa vidas , desde o pulsar do coração, pressão arterial, dieta alimentar e tantas outras formas. Tenho uma página no face "Diário de uma pedagoga" e tb um blog Taniaeducadorablogspot - Diário da pedagoga Tania. Te peço licença para compartilhar seu artigo, logicamente com os devidos créditos. Sua participação é fundamental para os educadores, pedagogos que me seguem. Parabéns pelo Trabalho. Meu face pessoal é Tania Rodrigues(Uberaba), sinta-se à vontade para me add. Grande abraço e todo sucesso na sua caminhada

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