SEJA BEM-VINDO!!!

A área da Matemática sempre foi considerada, para muitos, uma vilã que para ter seus conteúdos aprendidos era necessário uma grande habilidade ou inteligência. E não somente alunos sofriam com a matéria mas também professores que , sem saber como ensinar ou que metodologia seria mais adequada, repetiam o mesmo ensino pelo qual passaram: fragmentado, descontextualizado e com o treino como principal atividade.
Hoje sabemos, através de estudos , principalmente a Didática da Matemática baseada nos pressupostos piagetianos, que o aprendizado de conceitos matemáticos está ligado a "como" esses conceitos são apresentados ao estudante: sem ou com significado.
Contextualizar o problema, apresentar o desafio e validar as aprendizagens leva a criançada a construir com autonomia aqueles conceitos que , durante anos, foram apenas transmitidos e treinados nas escolas.
Neste blog, apresentamos artigos, experiências e propostas de atividades que, esperamos, proporcionem a reflexão sobre o ensino de Matemática.
Aproveitem!!!

quinta-feira, 19 de julho de 2012

Ensinar e aprender matemática com prazer... é possível?


Na última semana participei de um Seminário, no Instituto Pandavas, em que um dos temas apresentado foi: “Atividades colaborativas no Ensino da Matemática”, cujo objetivo era “demonstrar que através de atividades simples podemos explorar os mais diversos conteúdos de forma lúdica e colaborativa, estreitando os laços de afetividade entre professores e alunos, tornando o processo ensino-aprendizagem mais significativo a todos os estudantes, por aproximá-los de sua realidade concreta e emocional” (prof. Wilson Rosett)
A atividade consistia em classificar, agrupar e selecionar objetos (inicialmente que rola e que não rolam) e depois construir, em grupos, maquetes de cidades, contemplando tudo o que acreditamos que uma cidade necessite para que as pessoas possam viver bem. Cada grupo organizou-se de maneiras diferenciadas, as maquetes ficaram bem interessantes e criativas. Cada grupo pode dar sua devolutiva de como foi realizar esse trabalho coletivo. Depois, buscando a interdisciplinaridade, o professor propôs que cada grupo elaborasse um roteiro para o outro visitar sua cidade e chegar em determinado local ou simplesmente explorar seus pontos turísticos. A atividade, focando aspectos da geometria, foi um disparador para que muitos educadores que ali estavam pudessem repensar sua maneira de ensinar matemática nas séries iniciais e instigar aqueles que acreditam que a matemática é para aqueles que têm aptidão para os cálculos.
Na informação dada sobre o que seria o workshop, algumas palavras me chamaram a atenção: “explorar diversos conteúdos de forma lúdica e colaborativa”, “estreitar laços de afetividade” “tornar o processo de ensino-aprendizagem significativo para TODOS os estudantes”.
Sobre a primeira parte a que me referi, voltemos um pouco na história do ensino da matemática e veremos, primeiro, um ensino normativo, centrado no conteúdo, em que o professor tinha a missão de transmitir, de comunicar um saber aos alunos. O aluno deveria olhar, escutar, prestar atenção, aprender, imitar, treinar, e aplicar. O saber já estava finalizado, não havia espaço para descobertas. Quem de nós, hoje educadores, não passou por esse tipo de ensino? Feliz aquele que tinha”facilidade” com a matemática, em memorizar a tabuada, as fórmulas, e aplicá-las em exercícios de fixação. Davam-se muito bem nos teste e provas, provavelmente demonstrando uma grande capacidade para as ciências exatas, engenharia, física, etc.. Durante décadas essa foi a única concepção de ensino da matemática.
Como outra forma de ensino, temos o modelo chamado “iniciativo”, que está centrado no aluno. O ensino se baseia em saber do aluno seus interesses, programam-se fichas de estudos ou passo-a-passo, o professor dá as coordenadas, o aluno busca, estuda, aprende. O saber está ligado às necessidades da vida, do ambiente (a estrutura própria deste saber passa para segundo plano). Lembro-me que tive professores no magistério que se gabavam em dizer: o aluno deve ser autônomo, tem que aprender por si só! Sem ferramentas? Sem mediação? Não preciso me aprofundar em nenhum tema, só importa o que está ao meu redor? Surgiam meus primeiros questionamentos. Como eu poderia ler um texto sobre as teorias de aprendizagem e explicar sobre ele, se ainda estava em formação para ser uma professora? Que conhecimentos prévios eu tinha sobre esse assunto, visto que tinha acabado de passar para a idade da abstração (14, 15 anos), e nunca ouvira falar em teorias? Mas eu deveria aprender, pois afinal fazia parte do programa a ser cumprido. Em matemática, lembro-me de exercitar as fórmulas, aprender “macetes”, e no final da semana passar por um teste, que seriam quatro no mês, e no final deste teria uma das notas para consolidar a média. O professor dava dois exemplos e depois tínhamos que resolver os demais cálculos usando um deles: quanta autonomia! Hoje preciso esforça-me por lembrar as fórmulas, ao voltar a lecionar para os maiores precisei retomar todos os conteúdos, pois não me lembrava de nenhum... então o que significavam as boas notas que tirei no magistério, se os conteúdos não ficaram em minha memória?
Como outra alternativa de aprendizagem o modelo chamado “aproximativo” que está centrado na construção do saber pelo aluno. O papel do professor é de mediador entre o aluno e o objeto de conhecimento, organizando uma série de situações didáticas com diferentes desafios, organizando também as diferentes fases (investigação, formulação, validação, institucionalização). Existe na aula o momento da comunicação oral ou escrita, em que o aluno explicita o que fez, suas estratégias e suas dúvidas. O aluno ensaia, busca, propõe soluções, confronta-as com as de seus colegas, defende-as e discute, dentro de um clima agradável em que o saber está sendo construído por todos. Seria esse o caminho para explorar os mais diversos conteúdos de forma lúdica e colaborativa, em que todos têm a oportunidade de participar e aprender, numa interação afetiva e de respeito mútuo? Acredito que sim.
Sabemos, no entanto, que diante do que trazemos em nossa “mala” de circunstâncias em que nos tornamos professores, no nosso contexto de vida acadêmica, as nossas raízes construídas no modelo normativo, passando por um processo de ensino iniciativo que não foi tão bem compreendido e menos ainda difundido, acabamos por utilizar todos os métodos possíveis na ânsia de ensinar ao aluno aquilo que ele deve aprender… ou será daquilo que nós queremos que ele aprenda? Muitos fazem uma miscelânea de metodologias, a que chamam de ensino eclético. O que não seria tão prejudicial ao aluno, se contemplasse o modo de aprender de cada um, e não a carência de experiência e de formação reflexiva e especializada por parte de quem educa.
O estudo mais aprofundado destes modelos citados fornece um bom instrumento de análise e reflexão para os professores em formação. Precisamos, no entanto, ter consciência de que, mesmo observando a presença dos três modelos de aprendizagem, cada professor faz uma escolha, consciente ou não e de maneira privilegiada, de um deles.
Nessa escolha, três elementos da atividade pedagógica se fazem presente, dependendo de como o professor pensa sobre sua prática:
- o comportamento do professor diante do erro do aluno: que interpretação faz acerca deles? Quais são suas intervenções?
- as práticas de avaliação:como pensa a avaliação? Para que serve? Em que momentos e como utiliza suas informações? Quais as formas e critérios que adota?
- qual o papel da resolução de problemas em usa aula: o que pensa sobre os problemas? quando utiliza, de que maneira? Com que finalidade?
Retomando as palavras citadas no início, sobre o seminário, pensando sobre atividades que sejam lúdicas, alguns dirão: então temos que brincar, jogar e brincar? Mas o que significa lúdico? Lúdico: adj. Que faz referência a jogo ou brinquedos: brincadeiras lúdicas. Que tem o divertimento acima de qualquer outro propósito. Que faz alguma coisa simplesmente pelo prazer em fazê-la. Contagiante.
Podemos imaginar uma educação matemática contagiante? Se pensarmos somente como ensino de algoritmos e fórmulas, isso seria impossível. Se pensarmos em investigação, descobertas sem medo de errar, aprender com o outro, ter espaço para colocar-se e aprender a ouvir a opinião do colega, então a resposta será: sim!
Carecemos de mudanças no processo de ensino e aprendizagem, que gosto de colocar separados pois, temos estratégias de ensino e estratégias de aprendizagem, que podem gerar, inclusive, dificuldades de aprendizagem e dificuldades de “ensinagem”. Para que essa mudança ocorra, somente dar bons problemas e esperar que os alunos discutam não será suficiente. Torna-se necessário mudança de paradigmas, mudança no pensar e fazer do professor que só acontecerão por meio de estudos, análises e reflexão sobre sua prática como educador, o que se dá pela formação continuada. O passado permanece em cada um como sempre foi, não é possível mudá-lo. Mas o presente está aí, novinho em folha esperando para ser construído da maneira como cada um escolher. E o futuro será a colheita da nossa plantação de hoje.
Como diz prof. Ubiratan D’Ambrósio: “(…) capacidade de enfrentar situações e de resolver problemas novos, de modelar adequadamente uma situação real para, com esses instrumentos, chegar a uma possível solução ou curso de ação. Isso é aprendizagem por excelência, isto é, a capacidade de explicar, de aprender e compreender, de enfrentar, criticamente, situações novas. Aprender não é o mero domínio de técnicas, de habilidades, nem a memorização de algumas explicações e teorias.” (Educação Matemática: da teoria à prática. Campinas/SP. Ed. Papirus, p. 108)

Acreditem: é possível ensinar e aprender matemática com prazer, num processo em que todos sejam envolvidos de forma contagiante!  

Profª. Deborah Arantes

sexta-feira, 8 de junho de 2012

Problemas do campo multiplicativo

CONTEÚDO: problemas multiplicativos


ANO: 4º ano


ORGANIZAÇÃO: alunos em duplas do mesmo nível


LANÇANDO O DESAFIO


Dona Lúcia comprou 8 caixas de paçoca para vender na festa junina da escola. Sabendo que cada caixa custou R$12,00 , quanto ela pagou pelas caixas?


Quais as informações? Qual é a questão a ser resolvida?



RESOLVENDO O PROBLEMA
As crianças precisam lançar mão de conhecimentos que já possuem sobre a adição. Geralmente, no início do trabalho com problemas desse campo conceitual, elas ainda pensam em somar as parcelas iguais, e este é um bom desafio para que comecem a perceber que repetir varias vezes a mesma parcela pode ser desgastante, perder-se na contagem, enfim, deverá encontrar outra forma mais econômica para resolver. 
Dar o desafio seguinte: e se fossem 10 caixas, como resolveriam? A partir dessa questão, a multiplicação por 10, 100 e 1000 já pode ser introduzida aos alunos que já sistematizaram a multiplicação.
Outro desafio: sem "armar " a adição, como resolvê-la? Neste caso, as crianças serão levadas a pensar matematicamente, utilizando estratégias de cálculos, como somar primeiro as unidades e depois acrescentar as dezenas ou o contrário. Para isso, precisam dispor de conhecimentos sobre o sistema de numeração decimal.

 
 
AVALIAÇÃO
Avaliar que estratégias os alunos já assimilaram e quais ainda precisam se apropriar para avançarem em seus conhecimentos matemáticos garante ao professor elementos para planejar as próximas aulas, visando propiciar ao aluno condições favoráveis de aprendizagem.

segunda-feira, 30 de abril de 2012

UMA AULA DE MATEMÁTICA NOTA 10!

Como planejar uma aula de matemática que proporcione ao aluno construir o conhecimento de forma autônoma, gerando uma aprendizagem real?


Muitas vezes nos preocupamos em transformar nossas aulas, sejam de matemática ou qualquer outra área, em um grande show de talentos e variedades: usamos pinturas, teatros, músicas, massinha de modelar, fantasias, enfim, só não usamos fogos de artifício por que pode ser considerada uma arma dentro da escola. Tudo isso é realmente necessário? Até que ponto precisamos inovar tanto nossas aulas? Qual o significado de tudo isso?
Considerando que cada um aprende do "seu jeito", claro que a primeira ideia que nos vem á mente é que devemos encher nossas aulas com todo tipo de material para que cada aluno possa ser atendido. Errado ou certo? 
Pensar que cada um aprende de um jeito nos leva à  Teoria das Inteligências Múltiplas, de Howard Gardner (1985), que nos mostra uma alternativa para o conceito de inteligência como uma capacidade inata, geral e única, que permite aos indivíduos uma performance, maior ou menor, em qualquer área de atuação.Gardner identificou as inteligências linguística, lógico-matemática, espacial, musical, cinestésica, interpessoal e intrapessoal. Assim, todos nós temos habilidades maiores ou menores em determinada "inteligência", o que também estaria relacionado à forma como aprendemos. 
Contudo planejar uma aula levando em conta como cada  aluno aprende é bem mais do que fazer da aula um espetáculo. Requer, antes de mais nada, conhecer o aluno e isso não acontece sobrecarregando a sala de aula. Ao contrário. Conhecer o aluno pressupõe observá-lo em diferentes situações de agrupamento (individuais, em duplas, em grupos), situações de ação (aulas expositivas, debates, seminários, rodas de conversas, leituras colaborativas, etc) e situações de validação (oralidade, registros - textos, desenhos, gráficos), descobrindo como ele se expressa, o que ele já sabe e o que ainda precisa aprender. Tudo isso leva tempo, mas ajuda a conhecer o aluno em várias dimensões. 
A partir desse levantamento, torna-se possível planejar atividades objetivas, pensar nos agrupamentos produtivos, focando as necessidades dos educandos. Não vejo aqui, necessidade de um circo pedagógico, mas sim, atividades significativas, com objetivos claros e encaminhamento organizado visando propor momentos para que ocorra a aprendizagem. Essa reflexão estende-se também ao campo das atividades matemáticas. 
Por anos me angustiava a ideia de não dar sentido ao ensino dos conteúdos matemáticos. Eram inúmeras tentativas: gincanas, competições, desenhos, enfim, uma "miscelânea" de tudo que dispunha para tentar ressignificar o ensino para que a aprendizagem fosse significativa. Muito disso tudo era em vão, eu sabia. No fundo, após todas essas manobras o que predominava era a transmissão de conceitos e o treino. Algumas vezes , até conseguia fazer com que os alunos descobrissem os conceitos, mas não sabia o que fazer em seguida, o que me levava de volta ao tradicional. E ao sentimento de impotência.
Após estudar a didática da Matemática e aplicar as atividades junto aos alunos, inclusive alguns com deficiência intelectual, senti como se tivesse descoberto um grande tesouro. Estava o tempo todo diante dos meus olhos: os problemas.
Defendo os problemas como essência da atividade matemática. A partir deles é possível propiciar ao aluno desafios para que, resolvendo com os saberes que possui, construir os conceitos neles implícitos.

Passos para uma boa aula de matemática:
Contextualizar o problema
Trazer a situação-problema para a vivência do aluno: levantar conhecimentos prévios. Qual é o enunciado? Quais as informações?
Lançar o desafio
Como podemos resolver? O que você já sabe que poderá ajudá-lo a resolver esse problema? Que estratégia poderá utilizar? 
Acompanhar o aluno 
Qual é a pergunta? O que seu colega pensa sobre isso? Que outra maneira você pode usar? Como você pode conferir?
Validar as aprendizagens
O que você aprendeu? Isso se aplica sempre a situações semelhantes? E se em vez de tal nº fosse tal nº, como você faria? O que podemos dizer que foi aprendido?

Veja no link abaixo uma proposta de atividade desenvolvida por Patrícia Monteiro, formadora do programa Matemática é D+, da Fundação Victor Civita:



Passando por esses caminhos, com certeza o professor estará muito próximo do sucesso em suas aulas do que do fracasso, com relação à aprendizagem dos alunos.
O aluno, diante de uma situação em que poderá retomar o que já sabe, utilizar procedimentos próprios para resolver e expor o que fez oralmente ou por escrito, certamente estará em posição autônoma de construir seu conhecimento, podendo reutilizá-lo em atividades posteriores a fim de sistematizar o que aprendeu. E se aprendeu, então é real!
Não é necessário que o professor traga para sala de aula várias caixas de ovos, monte uma granja, para dar significado ao problema. 
Dar significado é contextualizar o problema para o aluno, explorando o enunciado, acionando aprendizagens anteriores guardadas na memória, preparando o terreno para que a criança possa , da melhor forma, trilhar esse caminho para chegar ao resultado, respeitando o seu ritmo de aprendizagem e como ele aprende. As aulas devem ser bem planejadas, levando em conta os saberes que cada grupo de alunos apresenta, para que os problemas possam ser desafios possíveis de serem realizados a fim de não causar frustração ou, nem tão fáceis que possam causar desinteresse. 
O professor que se dispuser a trabalhar dessa forma não encontrará menos trabalho pelo caminho, ao contrário, pois essa metodologia implica conhecer cada aluno, pensar sobre os agrupamentos que possam ser produtivos e planejar como serão as aulas atendendo a cada um em suas necessidades e peculiariedades. Isso requer disponibilidade e disposição para estudar e refletir sobre sua prática constantemente.
 http://youtu.be/gp3CysKOg5s


Profª.    Pós - graduada em Gestão do Trabalho pedagógico Deborah Arantes

quinta-feira, 26 de abril de 2012

Aritmética x Álgebra?

Muitos alunos, mesmo tendo facilidade com a matemática nos anos iniciais do Ensino Fundamental, parecem demonstrar dificuldade quando passam para o 6º ano, ao se depararem com novos conteúdos.
Partindo do pressuposto de que o aluno constrói seu conhecimento a partir das situações didáticas descritas por Brousseau (ação, formulação, validação e institucionalização), observando como essa questão pode ser conflitante para muitos estudantes, poderíamos dizer que essas situações se aplicariam somente ao ensino e aprendizagem da aritmética e não da álgebra? Qual a grande diferença?
A aritmética (da palavra grega ἀριθμός, arithmós, "número") é o ramo da matemática que lida com números e com as operações possíveis entre eles. Durante os primeiros anos da Educação Básica, a garotada está acostumada a estudar Matemática com problemas aritméticos que envolvem as quatro operações, trabalhadas numa complexidade crescente de números grandes, frações e racionais. Letras são usadas somente para representar grandezas, como "m" para metro, "g" para grama e "l" para litro. Mas, de repente, as letras passam a ter valores, como em a+b=12. E agora, como resolver?


De fato, a compreensão da álgebra - parte da disciplina de matemática que estuda leis e operações com entidades abstratas, geralmente utilizando letras para representar valores desconhecidos - exige que a criançada repense saberes que funcionavam bem com as operações aritméticas. A pesquisadora argentina Patricia Sadovsky defende que o papel do  professor é fundamental para apresentar a passagem da aritmética à álgebra como continuidade e não como ruptura. 
No entanto, observamos que muitos professores do Fundamental 2 (6º ao 9º ano) iniciam o seu trabalho como se os alunos já tivessem grande familiaridade em operar com números e letras, desconsiderando os conhecimentos prévios, o que o aluno sabe a respeito  desses conteúdos e o que ele precisa aprender para dar continuidade de forma mais tranquila.
Aprender álgebra exige grande esforço de abstração, afinal se está lidando com letras que possuem um valor numérico e com números que existem , mas não os vemos. Outro dia até ouvi um professor dizendo: nessa divisão, você usa o "zero fantasma"
Dá medo?Para alguns alunos sim! E o pior: muitas vezes o gosto criado nos alunos pela matéria nos anos iniciais pode levar um balde de água fria se não houver uma apresentação significativa dos conteúdos.
Além disso, não podemos esquecer que é a fase em que os alunos estão finalmente passando do concreto para a abstração, mas que cada um tem seu tempo. No estudo da álgebra lidamos com o abstrato, contrário ao que os alunos até o 5º ano estão habituados, pois são , em sua maioria, situações concretas, com informações em números bem visíveis e prontos para serem calculados. Apresentam significado para o aluno.
Será assim tão difícil dar sentido e significado também à álgebra? Ou os especialistas na área, colegas professores-matemáticos, se colocam em posição de detentores de um saber que só é permitido adquirir aqueles que forem dotados de uma inteligência matemática acima da média? 
Assim como a aritmética, a álgebra foi sendo construída ao longo dos séculos, tendo seu início na Antiguidade, mais precisamente na Babilônia e depois no Egito, com a finalidade de resolver situações do dia-a-dia que se mostravam um desafio - concreto. Porque não tornar o aprendizado de álgebra um desafio possível de ser compreendido e realizado? 
No Ensino Básico, não estamos formando especialistas em Matemática. Isso será feito nas universidades , destinadas aos alunos que optarem por essa matéria, levados pelo gosto, pela inteligência lógico-matemática mais acentuada, entre outros motivos. No Ensino Fundamental, no entanto, precisamos dar sentido ao que ensinamos, aproximar os conteúdos da vivência dos alunos, propondo situações em que se possam aplicar estratégias pessoais, utilizando conhecimentos matemáticos de forma autônoma e com significado, sendo de aritmética ou álgebra. A Matemática é uma ciência que não se limita a algumas áreas de conhecimento, afinal ela está presente em todo o universo.
Deborah Arantes

segunda-feira, 23 de abril de 2012

MATEMÁTICA SEM FRONTEIRAS!!!: A NEUROCIÊNCIA E A APRENDIZAGEM MATEMÁTICA

MATEMÁTICA SEM FRONTEIRAS!!!: A NEUROCIÊNCIA E A APRENDIZAGEM MATEMÁTICA: Deborah Arantes O presente artigo discursa sobre a proposta da Didática da Matemática, teoria que tem suas bases nos estudos piagetiano...

A NEUROCIÊNCIA E A APRENDIZAGEM MATEMÁTICA


Deborah Arantes


O presente artigo discursa sobre a proposta da Didática da Matemática, teoria que tem suas bases nos estudos piagetianos, sob o olhar da neurociência. A neurociência, dentro de suas ramificações, como a neuropsicologia e a neuroeducação, traz valiosas contribuições à prática pedagógica. Mais do que conhecer como funciona o cérebro humano, sua fisiologia e função psicológica, cabe ao professor identificar como cada aluno aprende e, consequentemente, planejar sua aula de forma a atendê-lo em suas particularidades. O ensino da matemática, ao longo de décadas condicionado ao treino de técnicas e algoritmos, afastou a construção do conhecimento do aluno, não o considerando capaz de produzi-lo por si próprio utilizando amplamente suas funções cerebrais. O conhecimento era disposto de forma linear, segmentado , que o tornava sem sentido para o aluno.
Relacionando a Teoria das Situações (Guy Brousseau)¹ à neurociência, é possível compreender e estabelecer o verdadeiro papel da memorização como algo inerente à aprendizagem, com a função de reter conhecimentos para uso futuro, possibilitando conexões entre os saberes. “Sem memória os processos de aprendizagem estariam sempre a iniciar-se, estando em causa todo o processo de adaptação do ser humano. É a partir de aprendizagens retidas que se processam novas aprendizagens. É a memória que permite que as aprendizagens se mantenham e que possam ser usadas quando necessário” (CASTRO, 2004, p. 11)². A aprendizagem baseia-se em uma hierarquia de experiências, acontecendo em uma espiral dialética, com funções superpostas e interligadas.
Diante desse pressuposto, a Didática da Matemática traz a resolução de problemas como a essência da atividade matemática, em que é apresentado ao individuo um desafio possível de ser resolvido, que requer solução, em que a resposta pode ser única, porém o caminho para se chegar podem ser vários.  Nesses caminhos, o aluno utiliza conhecimentos prévios, ou seja, aprendizagem já retida, para chegar a um novo patamar de seu conhecimento.
Observando o momento histórico da proposta de Brousseau, um dos colaboradores de Piaget, a visão dominante no campo da Educação era essencialmente cognitiva, visto que seus estudos evidenciavam o papel central da ação no desenvolvimento,  a  originalidade do pensamento matemático e as etapas de seu desenvolvimento nas crianças, sem contudo observar como o aluno aprendia cada conceito e que relações a criança estabelecia entre elas para que existisse a aprendizagem. Esses fatos encaminharam Brousseau (1996) a “(...) um estudo mais profundo sobre as condições que levariam um sujeito a usar de seus conhecimentos para tomar decisões e a estudar as razões dessa tomada de decisão” (ALMOULOUD, p.2, 2004a)³. Surge assim, a Teoria das Situações. O pesquisador sugere o triângulo didático,


               SABER
                                                                      

                                               PROFESSOR                                 ALUNO

demonstrando, dessa forma, que o indivíduo aprende na relação com o objeto de conhecimento e com o meio. O professor age como mediador e facilitador da aprendizagem, deixando, num primeiro momento, que o aprendente percorra por si próprio o caminho que o levará a resolução do problema.
Analisemos cada situação descrita por Brousseau:
·         Situações de devolução: o professor propõe uma situação desafiadora, cujo conteúdo implícito propicie ao aluno levantar conhecimentos prévios.
·         Situações de ação: o indivíduo coloca em jogo o que sabe, escolhendo ou elaborando estratégias de resolução, fazendo tentativas na busca pela resolução.
·         Situações de formulação: em contato com o novo conhecimento, o aluno formula sua hipótese de resolução, buscando adequar sua linguagem e pensamento
·         Situações de validação: nesse momento a socialização da estratégia utilizada permite ao aluno elaborar o pensamento para transmitir da forma mais adequada o que pensou, fazendo uso de uma linguagem matemática.³
·         Situação de institucionalização: a intenção do professor surge nesse momento, dando sentido a esse conhecimento, sendo este último oficialmente aprendido pelo aluno e o professor reconhecendo essa aprendizagem. 
Durante atividades de resolução de problemas, com o objetivo de observar e analisar como as crianças estavam operando com determinados conceitos matemáticos, propus algumas atividades em uma sala de aula de 4º ano, em que os alunos, organizados em duplas, foram apresentados aos seguintes problemas:
Problema 1. “No supermercado havia a seguinte oferta: leve 4 pacotes de bolachas e pague R$3,00. Luciana levou 12 pacotes de bolachas. Quanto pagou por eles?”
Algumas resoluções:
       


     
Focando os estudos da neurociência, observamos que durante as situações descritas acima, as duplas de alunos estão diante de uma situação em que o cérebro precisa buscar aprendizagens anteriores (memória) e fazer relações com o que precisa ser resolvido (sinapses), reagindo aos estímulos do ambiente: mediação do professor, socialização (expressar-se com linguagem adequada em duplas e em grupos maiores), sendo a aprendizagem uma ação social. Diante de novos desafios, o individuo sente-se motivado e encorajado ao saber que poderá utilizar estratégias pessoais para resolver, fazendo associações entre experiências prévias e as atuais. Alunos com deficiência intelectual também foram apresentados ao problema e, utilizando o registro com desenho, conseguiram chegar ao resultado.
Outra situação:
Em uma lanchonete, João e Lucas pediram um sanduíche de presunto e queijo, um x-salada e dois sucos de laranja. O x-salada custava R$ 4,50, o sanduíche  , R$ 2,70 e os sucos, R$ 1,80 cada. Com R$15,00 foi possível pagar a conta? ”


Os alunos utilizaram conhecimentos de que dispõem: sabem que “reais” devem ser separados de “centavos” e concluíram que havia a necessidade de somar os valores obtidos. Segundo o ensino tradicional, esta operação seria considerada incorreta por não ter sido resolvida da maneira convencional. Porém, quando vamos ao supermercado, o mais prático não é realmente somarmos os “inteiros” e depois acrescentar os centavos? Isso exige de nós, adultos, competências que fomos adquirindo no dia-a-dia, ao realizarmos cálculos em situações cotidianas.  Podemos ignorar essa estratégia utilizada acima por não ser efetuada nos padrões convencionais do algoritmo, principalmente sabendo que este foi o primeiro problema apresentado à turma envolvendo números racionais?  Esta estratégia, após a validação, em que foi socializada juntamente com outras, e tendo surgido também o algoritmo convencional , foi bastante explorada em sala de aula, a fim de verificar sua potencialidade para resolver essas situações. Dessa forma, as crianças tinham, a partir desse momento, duas maneiras de pensar e resolver situações semelhantes.
Concluindo, situações como essas propiciam a aprendizagem, ativando áreas do córtex cerebral no transcurso dessa nova experiência de aprendizagem, pois refletem o contexto real, e, sendo novas, se ancoram em compreensões anteriores. São situações contextualizadas, pois permitem ao aluno acionar saberes já existentes, influenciando a consolidação de novas memórias. O professor tem um papel fundamental nessa perspectiva de trabalho , visto que é necessário conhecer o nível de conhecimento de cada aluno, pensar nas duplas produtivas de acordo com a Zona de Desenvolvimento Proximal (VIGOTSKY), tornando o ambiente da sala o mais propício possível ao aprendizado e planejar atividades que instiguem o cérebro dos alunos a recorrer a suas funcionalidades como ferramentas para chegarem ao resultado e à aprendizagem.
Ressalto que atividades como essas foram aplicadas a alunos com deficiência intelectual, adequando-as ao nível de aprendizagem, respeitando os limites de cada um, sendo o resultado igualmente positivo.
O trabalho com a Teoria das Situações em outras áreas de ensino tem promovido grandes avanços pedagógicos, possibilitando ao aluno entrar em contato com o objeto de conhecimento, acionando seus saberes e construindo conexões que o levarão a aprender dentro de seu potencial e de suas capacidades. A neurociência possibilita entendermos como essa Teoria age sobre o individuo de forma eficaz, estimulando a aprendizagem.
Citações e referências bibliográficas:

¹ Guy Brousseau, um dos pioneiros da Didática da Matemática Francesa, é professor aposentado do IUFM (Instituto Universitário de Formação de Professores), em Aquitaine e da Universidade Bordeaux 1, situados na  França. Ele ganhou A „Felix Klein Medal‟ da Educação Matemática em 2003, da Comissão Internacional de Instrução Matemática(ICMI), em reconhecimento a contribuição que tem tido sobre o desenvolvimento da educação matemática como um campo de investigação científica, no campo teórico, implementando esta investigação a estudantes e professores.

² CASTRO, Elisa. Memória e Aprendizagem – Aquisição e retenção de saberes. Mestrado Educação, 2004
³ “As situações de devolução, ação, formulação e validação caracterizam a situação a-didática, onde o professor permite ao aluno trilhar os caminhos da descoberta, não revelando ao aluno sua intenção didática, tendo somente o papel de mediador.  Estas fases  têm um componente psicológico favorável, pois engaja o aluno na sua própria aprendizagem e o predispõe a ser o coautor de seu processo de aprendizagem, dentro de um projeto pessoal do aluno em relação ao conhecimento. “ (Wagner Marcelo Pommer, SEMA – Seminários de Ensino de Matemática/ FEUSP – 2º Semestre 2008)

sábado, 17 de março de 2012

FORMAÇÃO: A RESOLUÇÃO DE PROBLEMAS COMO ESSÊNCIA DA ATIVIDADE MATEMÁTICA

Hoje realizamos a Formação: A resolução de problemas como essência da atividade matemática, dirigido às professoras recém-contratadas de nossa rede municipal.
Ao iniciarmos, seguindo a pauta em anexo, compreendemos porque muitos dos educadores de séries iniciais ainda se prendem no ensino tradicional. Iniciamos com cada um falando sobre a sua aprendizagem inicial em matemática, em seus anos escolares iniciais. Muitos traumas, decoreba, fórmulas sem sentido. Mas aí temos uma questão inicial: quem nos traumatizou: a matemática ou o professor que tivemos? A resposta foi praticamente unânime: o professor. E o que somos hoje? Professores. E que matemática temos apresentado aos nossos alunos? Também estamos traumatizando?
Quanto às expectativas para a manhã de hoje: como ensinar os conteúdos de forma que não seja massante? O que ensinar?
São indagações que nos rodeiam a todo momento e se nos fazem parar para pensar, se nos tiram o sono, é um bom sinal: estamos refletindo sobre nossa prática. Deve ser uma constante, em todas as áreas.
Uma breve leitura e passagem pelos vários enfoques que o ensino da matemática pode ter, levaram os professores a pensar sobre o quanto de cada teoria temos em nossa prática e que quando estamos inseguros sempre nos apoiamos no método em que fomos ensinados ou que temos maior segurança. Retrocedemos ao invés de avançar. O que não é de todo ruim, se a cada vez que retrocedermos analisarmos o que nos fez parar e o que ainda precisamos alcançar para avançarmos em nossa práxis.
Ao darmos o enfoque à Didática da Matemática, estudando o básico da Teoria das Situações, de Guy Brousseau, criou-se um clima de dúvida: é possível trabalharmos assim?
Mãos à obra! Vamos resolver um problema!
Foi um momento bem interessante. As professoras utilizando estratégias variadas, colocando conhecimento em jogo, acionando o que já sabem, formulando hipóteses, confrontado-as no grupo e chegando a uma conclusão. Tudo como, mais tarde refletimos, funciona na Teoria das Situações. E o melhor: houve um desafio, diálogo e aprendizagem.
Para terminar, estudamos alguns tipos de problemas e preparamos o trabalho pessoal para a próxima "Manhã de Matemática" .
Algumas frases do dia:
"É preciso tirar a conotação negativa da palavra PROBLEMA" - Yumi
"Sempre achamos que o importante no problema era o resultado, mas são as estratégias que o aluno usa" Alauche
"Não é mais fácil trabalhar assim. Exige bastante do professor. Mas é muito bom!" - Rosana
"Foi algo a mais" - Cleusa
" Abriu meus olhos" - Roberta
"É muito bom ver os alunos resolvendo dessa forma. Eles conseguem mesmo!" - Erida
"É possível aprender matemática de um jeito mais divertido. Sem medo. Deu um norte para o meu trabalho" - Camila
Então, daqui a duas semanas tem mais. Analisaremos as atividades que serão realizadas e avançaremos mais um pouco, afinal a aprendizagem não é linear. Estamos sempre voltando ao mesmo ponto, mas sempre com um conhecimento a mais, nunca como na primeira vez!
"A mente que se abre para uma nova ideia nunca mais voltará ao seu tamanho original" Einstein

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