Na última semana participei
de um Seminário, no Instituto Pandavas, em que um dos temas apresentado foi: “Atividades
colaborativas no Ensino da Matemática”, cujo objetivo era “demonstrar que
através de atividades simples podemos explorar os mais diversos conteúdos de
forma lúdica e colaborativa, estreitando os laços de afetividade entre
professores e alunos, tornando o processo ensino-aprendizagem mais
significativo a todos os estudantes, por aproximá-los de sua realidade concreta
e emocional” (prof. Wilson Rosett)
A atividade consistia em
classificar, agrupar e selecionar objetos (inicialmente que rola e que não
rolam) e depois construir, em grupos, maquetes de cidades, contemplando tudo o
que acreditamos que uma cidade necessite para que as pessoas possam viver bem. Cada
grupo organizou-se de maneiras diferenciadas, as maquetes ficaram bem
interessantes e criativas. Cada grupo pode dar sua devolutiva de como foi
realizar esse trabalho coletivo. Depois, buscando a interdisciplinaridade, o professor
propôs que cada grupo elaborasse um roteiro para o outro visitar sua cidade e
chegar em determinado local ou simplesmente explorar seus pontos turísticos. A atividade,
focando aspectos da geometria, foi um disparador para que muitos educadores que
ali estavam pudessem repensar sua maneira de ensinar matemática nas séries
iniciais e instigar aqueles que acreditam que a matemática é para aqueles que
têm aptidão para os cálculos.
Na informação dada sobre o
que seria o workshop, algumas palavras me chamaram a atenção: “explorar
diversos conteúdos de forma lúdica e colaborativa”, “estreitar laços de
afetividade” “tornar o processo de ensino-aprendizagem significativo para TODOS
os estudantes”.
Sobre a primeira parte a que
me referi, voltemos um pouco na história do ensino da matemática e veremos,
primeiro, um ensino normativo, centrado no conteúdo, em que o professor tinha a
missão de transmitir, de comunicar um saber aos alunos. O aluno deveria olhar,
escutar, prestar atenção, aprender, imitar, treinar, e aplicar. O saber já
estava finalizado, não havia espaço para descobertas. Quem de nós, hoje
educadores, não passou por esse tipo de ensino? Feliz aquele que tinha”facilidade”
com a matemática, em memorizar a tabuada, as fórmulas, e aplicá-las em exercícios
de fixação. Davam-se muito bem nos teste e provas, provavelmente demonstrando
uma grande capacidade para as ciências exatas, engenharia, física, etc.. Durante
décadas essa foi a única concepção de ensino da matemática.
Como outra forma de ensino,
temos o modelo chamado “iniciativo”, que está centrado no aluno. O ensino se
baseia em saber do aluno seus interesses, programam-se fichas de estudos ou
passo-a-passo, o professor dá as coordenadas, o aluno busca, estuda, aprende. O
saber está ligado às necessidades da vida, do ambiente (a estrutura própria
deste saber passa para segundo plano). Lembro-me que tive professores no
magistério que se gabavam em dizer: o aluno deve ser autônomo, tem que aprender
por si só! Sem ferramentas? Sem mediação? Não preciso me aprofundar em nenhum
tema, só importa o que está ao meu redor? Surgiam meus primeiros
questionamentos. Como eu poderia ler um texto sobre as teorias de aprendizagem
e explicar sobre ele, se ainda estava em formação para ser uma professora? Que conhecimentos
prévios eu tinha sobre esse assunto, visto que tinha acabado de passar para a
idade da abstração (14, 15 anos), e nunca ouvira falar em teorias? Mas eu
deveria aprender, pois afinal fazia parte do programa a ser cumprido. Em matemática,
lembro-me de exercitar as fórmulas, aprender “macetes”, e no final da semana
passar por um teste, que seriam quatro no mês, e no final deste teria uma das
notas para consolidar a média. O professor dava dois exemplos e depois tínhamos
que resolver os demais cálculos usando um deles: quanta autonomia! Hoje preciso
esforça-me por lembrar as fórmulas, ao voltar a lecionar para os maiores
precisei retomar todos os conteúdos, pois não me lembrava de nenhum... então o
que significavam as boas notas que tirei no magistério, se os conteúdos não
ficaram em minha memória?
Como outra alternativa de
aprendizagem o modelo chamado “aproximativo” que está centrado na construção do
saber pelo aluno. O papel do professor é de mediador entre o aluno e o objeto
de conhecimento, organizando uma série de situações didáticas com diferentes
desafios, organizando também as diferentes fases (investigação, formulação,
validação, institucionalização). Existe na aula o momento da comunicação oral
ou escrita, em que o aluno explicita o que fez, suas estratégias e suas dúvidas.
O aluno ensaia, busca, propõe soluções, confronta-as com as de seus colegas,
defende-as e discute, dentro de um clima agradável em que o saber está sendo construído
por todos. Seria esse o caminho para explorar os mais diversos conteúdos de
forma lúdica e colaborativa, em que todos
têm a oportunidade de participar e aprender, numa interação afetiva e de
respeito mútuo? Acredito que sim.
Sabemos, no entanto, que
diante do que trazemos em nossa “mala” de circunstâncias em que nos tornamos
professores, no nosso contexto de vida acadêmica, as nossas raízes construídas no
modelo normativo, passando por um processo de ensino iniciativo que não foi tão
bem compreendido e menos ainda difundido, acabamos por utilizar todos os
métodos possíveis na ânsia de ensinar ao aluno aquilo que ele deve aprender… ou
será daquilo que nós queremos que ele aprenda? Muitos fazem uma miscelânea de
metodologias, a que chamam de ensino eclético. O que não seria tão prejudicial
ao aluno, se contemplasse o modo de aprender de cada um, e não a carência de experiência
e de formação reflexiva e especializada por parte de quem educa.
O estudo mais aprofundado
destes modelos citados fornece um bom instrumento de análise e reflexão para os
professores em formação. Precisamos, no entanto, ter consciência de que, mesmo
observando a presença dos três modelos de aprendizagem, cada professor faz uma
escolha, consciente ou não e de maneira privilegiada, de um deles.
Nessa escolha, três elementos
da atividade pedagógica se fazem presente, dependendo de como o professor pensa
sobre sua prática:
- o comportamento do
professor diante do erro do aluno: que interpretação faz acerca deles? Quais são
suas intervenções?
- as práticas de
avaliação:como pensa a avaliação? Para que serve? Em que momentos e como utiliza
suas informações? Quais as formas e critérios que adota?
- qual o papel da resolução
de problemas em usa aula: o que pensa sobre os problemas? quando utiliza, de
que maneira? Com que finalidade?
Retomando as palavras
citadas no início, sobre o seminário, pensando sobre atividades que sejam
lúdicas, alguns dirão: então temos que brincar, jogar e brincar? Mas o que significa
lúdico? Lúdico: adj. Que faz referência a jogo ou brinquedos: brincadeiras
lúdicas. Que tem o divertimento acima de qualquer outro propósito. Que faz
alguma coisa simplesmente pelo prazer em fazê-la. Contagiante.
Podemos imaginar uma
educação matemática contagiante? Se pensarmos
somente como ensino de algoritmos e fórmulas, isso seria impossível. Se pensarmos
em investigação, descobertas sem medo de errar, aprender com o outro, ter
espaço para colocar-se e aprender a ouvir a opinião do colega, então a resposta
será: sim!
Carecemos de mudanças no
processo de ensino e aprendizagem, que gosto de colocar separados pois, temos estratégias
de ensino e estratégias de aprendizagem, que podem gerar, inclusive, dificuldades
de aprendizagem e dificuldades de “ensinagem”. Para que essa mudança ocorra,
somente dar bons problemas e esperar que os alunos discutam não será
suficiente. Torna-se necessário mudança de paradigmas, mudança no pensar e fazer
do professor que só acontecerão por meio de estudos, análises e reflexão sobre
sua prática como educador, o que se dá pela formação continuada. O passado
permanece em cada um como sempre foi, não é possível mudá-lo. Mas o presente
está aí, novinho em folha esperando para ser construído da maneira como cada um
escolher. E o futuro será a colheita da nossa plantação de hoje.
Como diz prof. Ubiratan D’Ambrósio:
“(…) capacidade de enfrentar situações e de resolver problemas novos, de
modelar adequadamente uma situação real para, com esses instrumentos, chegar a
uma possível solução ou curso de ação. Isso é aprendizagem por excelência, isto
é, a capacidade de explicar, de aprender e compreender, de enfrentar, criticamente,
situações novas. Aprender não é o mero domínio de técnicas, de habilidades, nem
a memorização de algumas explicações e teorias.” (Educação Matemática: da
teoria à prática. Campinas/SP. Ed. Papirus, p. 108)
Acreditem: é possível ensinar
e aprender matemática com prazer, num processo em que todos sejam envolvidos de
forma contagiante!
Profª. Deborah
Arantes